sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Natureza e Papel da Fé


por Vincent Cheung

Deus… nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos… (2 Timóteo 1.9)

A doutrina que é Deus e somente Deus quem salva se estende à natureza e papel da fé na salvação. Os cristãos estão acostumados à ideia que somos “salvos pela fé”, mas nem sempre é claro para eles o que isso significa. Paulo coloca a fé em contraste com as obras em suas exposições sobre a salvação. Contudo, as ideias simples de fé e obras são apenas abreviações de visões mais completas sobre o assunto. O apóstolo se opõe à visão que diz “Eu salvo a mim mesmo por minhas obras”, mas ele não substitui isso por “Eu salvo a mim mesmo por minha fé”! Todavia, alguns cristãos falam e pregam como se essa fosse a doutrina apostólica, que não nos salvamos pelas obras, mas nos salvamos pela fé. Quando os cristãos esquecem que a salvação pela fé é posta como um contraste contra a salvação pelas obras, eles tendem a colocar o foco sobre a fé como tal como o caminho ou o meio para a salvação. Mas a fé em si não pode salvar. Fé é um termo relacional – você crê em algo. É esse “algo” que salva você. Fé é somente um termo descritivo para a relação.

Isso é essencial porque Paulo não diz que Deus te salva porque você colocou sua fé nele. De fato, isso seria verdadeiro a partir de uma perspectiva – depende do que “porque” significa – mas Paulo está considerando o cerne da questão. Ele diz que Deus te salva por causa do seu propósito e graça. Isto é, ele te salva por causa da sua própria razão e bondade. Se é assim, então pelo menos quando falando neste nível, não podemos dizer que Deus te salva por causa de sua fé, visto que sua fé não é o mesmo que o propósito dele, e sua fé não é a graça dele. E se Deus não te salva por causa de sua fé, então ele não te salva por causa de fé prevista. Deus não te escolheu para salvação porque ele sabia de antemão que você creria em Cristo. Antes, ele te escolheu por causa do propósito dele, à parte da sua fé.

Estamos prontos para abordar um defeito generalizado no entendimento da salvação pela fé. Muitos cristãos falham em definir fé de tal forma a distingui-la das obras de forma significativa. Eles reconhecem que somos salvos pela fé, não pelas obras. Contudo, fé, ou crer, é algo que fazemos, ou não? Eles respondem que a fé não é uma ação que produz mérito para conquistar a salvação; antes, o crente é como uma pessoa que estende sua mão para aceitar um presente, não conquistado, mas dado gratuitamente por outra pessoa.

Há pelo menos dois problemas com isso. Primeiro, é arbitrário insistir que essa ação não é meritória ou pelo menos uma bondade moral, especialmente quando a Bíblia chama a incredulidade de pecaminosa. A fé é de fato uma bondade moral. Segundo, isso não pode explicar o porquê uma pessoa crê enquanto outra não. Deve haver alguma diferença entre as duas pessoas. Visto que é moralmente bom crer em Cristo, e visto que é moralmente mau rejeitar a Cristo, se a fé é como um homem que estende uma mão para aceitar algo, então a diferença entre as duas pessoas deve incluir uma dimensão moral também. Em outras palavras, sob essa visão, uma pessoa que aceita a Cristo o faz porque ela já é uma pessoa melhor que aquela que rejeita a Cristo mesmo antes de realmente aceitar a Cristo. Os cristãos são pessoas melhores que os não cristãos antes de se tornarem cristãos. Contudo, Paulo chama a si mesmo de o pior dos pecadores.

A Escritura define fé de uma forma diferente. Paulo diz que a própria fé é um dom (Efésios 2.8). E se a própria fé é um dom, o que é a mão que recebe a fé? A analogia da mão é inexata e inútil, mas se formos mantê-la por causa da ilustração, então ela deve ser drasticamente modificada. Visto que a própria fé é um dom, então a salvação não pode consistir em Deus estender o dom da justiça para nós enquanto esticamos a mão da fé para tomá-lo. Antes, não começamos com nenhuma mão, mas Deus cria uma mão onde não existia nenhuma antes. Então, ele chega, toma a nossa mão e a puxa, e coloca o dom da justiça na mão que ele criou, e após isso ele empurra a mão de volta para o nosso lado. Ela é “nossa” mão somente no sentido que está ligada a nós, mas ela é um dom e uma criação de Deus, e sujeita ao seu controle. É somente nesse sentido que Deus nos salva “por causa” da nossa fé, isto é, no sentido que fé é parte da sua obra de salvação em nós e que fé é parte do processo pelo qual ele nos salva. Dessa forma, permanece o fato que ele nos salva por causa dele mesmo. É mais preciso dizer que temos fé porque ele nos salva, e não que ele nos salva por causa da nossa fé.

Não somos salvos pela fé como tal, ou pela própria fé; antes, somos salvos por Cristo somente, e ele nos salva dando-nos fé. Fé é nossa consciência de sua operação em nós quando ele estabelece uma relação espiritual conosco. É correto dizer que somos salvos pela fé, conquanto percebamos que isso é uma forma resumida de dizer que é Cristo quem nos salva dando-nos fé, e a questão é posta dessa forma para fazer um contraste contra a visão que somos nós quem salvamos a nós mesmos por nossas obras, ou que Deus concede salvação a alguns e não a outros sobre a base das nossas obras. O dom da justiça é dado aos escolhidos por meio do dom da fé. Se você tem fé, é porque é o propósito de Deus que você tenha fé. Se você crê em Jesus Cristo, é porque Deus decidiu, à parte de algo em você ou sobre você, que você creria em Jesus Cristo. A salvação é totalmente uma obra de Deus, de forma que não existe nenhum lugar para nos orgulharmos, nem mesmo pelo fato de termos fé.

Fonte: Reflections on Second Timothy

Postado: Filipe Silva Ivo , julho/2010

O Evangelho Traz a Graça à Luz


por Vincent Cheung

… sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho. Deste evangelho fui constituído pregador, apóstolo e mestre. Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia. (2 Timóteo 1.10-12)

Antes da criação do universo, Deus decidiu que glorificaria a si mesmo pela demonstração de sua misericórdia e de sua ira. Para realizar isso, ele criaria alguns homens para salvação e alguns para condenação. A fim de que aqueles escolhidos para salvação necessitassem de salvação, ele mergulhou a humanidade no pecado através de Adão. A promessa de salvação foi imediatamente anunciada numa forma simplificada, declarando apenas que Satanás seria derrotado por aquele nascido da mulher. Por toda a história do Antigo Testamento, e principalmente por meio dos profetas, ele revelaria mais e mais detalhes sobre essa promessa e esse que nasceria da mulher. É por acreditar nessa promessa e aguardar pelo Salvador prometido que homens e mulheres foram salvos mesmo antes da vinda de Jesus Cristo.

A substância e cumprimento da promessa apareceu quando Jesus Cristo nasceu da virgem Maria. Um entendimento pleno dessa salvação é então “trazido à luz” (NIV) por meio do evangelho – isto é, a mensagem do evangelho, ou o sistema cristão de doutrinas, e a pregação e propagação dessa religião. A aparição histórica de Jesus Cristo foi o cumprimento da promessa de salvação, e o que chamamos de o “evangelho” é a mensagem que fala sobre essa salvação. Para espalhar esse evangelho por todo o mundo e ao longo dos séculos, Deus chama todos os crentes e especialmente ministros escolhidos em cada geração para publicá-la de várias formas, quer por falar ou escrita.

Paulo foi chamado para ser um “pregador, apóstolo e mestre” desse evangelho. A natureza do evangelho é fixa e bem definida, e a obra dos seus ministros reflete o que ele é. Paulo não “transmite” Jesus Cristo. Ele não é um artista que “encena” o caminho da salvação. Ele não pode colocar o evangelho em músicas ou pinturas. Não, ele é um anunciador, uma testemunha com autoridade, e um professor da informação intelectual que Deus revelou aos homens, com foco especial sobre os fatos com respeito à salvação em Jesus Cristo. O evangelho é uma mensagem clara e definida, comunicada em palavras e entendida pela mente. Não é um sentimento ou intuição nebulosa, mas um sistema de doutrinas, de afirmações ou explicações sobre fatos importantes.

A maioria dos homens são cheios de pecado e ira para com Deus. Assim, quando uma pessoa chega com uma mensagem clara e definida sobre Deus, a justiça, salvação e julgamento, ele encontrará oposição. Essa é uma mensagem que desperta os eleitos à fé e santidade, mas incita os réprobos à ira e ódio. Como Paulo escreve, “por essa causa também sofro”. É porque ele é um pregador e mestre do evangelho. Mas ele diz, “mas não me envergonho”. Ele era considerado como um criminoso, e preso como um, mas não se envergonha. Ele não tinha feito nada de errado, e não tinha dito nada errado. Ele sabe que tinha acreditado na verdade, e que pregava a verdade. E Deus vindicará a sua mensagem e o seu povo no tempo devido.

Fonte: Reflections on Second Timothy

Tradução: Filipe Silva Ivo , julho/2010